É fato: nenhuma trabalhadora e trabalhador desejam se acidentar no ambiente laboral ou em decorrência dessa jornada, muito menos caso isso ocorra, que as consequências desse problema possam perdurar durante toda a vida, tornando-se uma dor não apenas à pessoa, mas a todos os entes desse colaborador. Nesse âmbito, a experiência mostra que o combate aos acidentes de trabalho é um desafio persistente que exige gestão de riscos eficaz e uso de tecnologia.
Contudo, o cenário de ocorrências, lesões e avisos de afastamentos ainda é uma realidade dura: segundo pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 317 milhões de pessoas no mundo são vítimas de acidentes de trabalho por ano. Já na América Latina, o índice chega a 11,1 acidentes fatais em setores como construção civil, 10,7 na agricultura e 6,9 no setor de serviços, a cada 100 mil trabalhadores.
Desafio persistente
Para Javier Yáñez Gómez, advogado da seguradora Crawford Chile, muito embora, com a Revolução Industrial, houve avanços em leis, regramentos, capacitação, a promoção das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes de Assédio (Cipas) e Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerests), bem como as tecnologias em prol da SST, os desafios são inúmeros, que vão desde a interpretação as normas até os desdobramentos de empregadores e colaboradores na gestão de riscos.
“A documentação das circunstâncias de acidentes, as medidas de proteção implementadas e o gerenciamento após o sinistro permitem que as empresas se protejam melhor de casos fraudulentos ou daqueles em que se estima que não exista responsabilidade, mas que ainda assim chegam aos tribunais. É complexa encontrar um equilíbrio entre a proteção do trabalhador e a responsabilidade empresarial em matéria de segurança do trabalho”, frisa o gestor, em artigo para a Apólice.
Gerenciamento preciso
A adesão mandatória de um Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) e um Plano de Resposta a Emergências (PRE) não é apenas um processo documental protocolar da gestão de riscos ocupacionais (presentes do eSocial, por exemplo), mas uma visão holística, multidisciplinar e humanizada a favor da melhoria contínua das condições de trabalho, apontam os especialistas sobre esse desafio.
Carla Leal e Déborah Camacho, membras do Grupo de Pesquisa sobre meio ambiente dotrabalho,na Universidade Federal do Mato Grosso UFMT, em artigo ao site Olhar Direto, argumentam que O PGR tem uma função mais abrangente que o antigo Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), já que determina o monitoramento de riscos não só físicos, químicos e biológicos, mas também mecânicos e ergonômicos.
“Fica evidenciado que o PGR exige do empregador investimentos em SST, portanto no meio ambiente do trabalho, necessitando ser alimentado ao longo da sua vigência, o que demanda tempo e conhecimento dos profissionais da área.Entretanto, as inspeções e monitoramento de exposições a riscos, o controle médico da saúde dos trabalhadores, a investigação de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho permanecem com Secretaria de Inspeção do Trabalho e com o Ministério Público do Trabalho”, frisam as autoras.
Isso reforça que todos os agentes, pessoas, organizações, órgãos responsáveis, fazem parte desse ciclo preventivo para segurança e saúde do trabalho, indo além do desafio das planilhas. Durante workshop promovido pela consultoria EY em 2023, com empresas do segmento de saúde, foi constatado que a adoção de softwares e aplicativos para manejo de riscos facilitamos planos de ação, unificando as linhas de defesa nas operações diante de tal demanda.
Para João Méscolin, gerente sênior de Consulting da EY, do mesmo modo que a evolução tecnológica e as mudanças do mundo do trabalho em todos os setores estão em constante aceleração, se faz necessária as adaptações e medidas decisivas imediatas que versem a gestão eficiente dos riscos, caso contrário, as organizações não vão somente arcar com custos trabalhistas, mas também estão fadadas a uma má reputação. “Para que a gestão de riscos seja eficaz, é preciso uma estruturação madura, com integração entre as áreas, disseminação da cultura de riscos em todos os níveis da organização e utilização de ferramentas e tecnologias adequadas”, conclui o profissional.
Fonte: Revista CIPA